Schiaparelli no Brasil
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resumo:
Elsa Schiaparelli visitou o Brasil na década de 1950, explorando influências culturais e naturais do país. Sua passagem, organizada por Assis Chateaubriand, consolidou laços entre a estilista e o país.
Você sabia que Elsa Schiaparelli já veio ao Brasil? Se engana quem pensa que foi uma breve passadinha. Em 1952, Schiaparelli fez uma verdadeira tour no país, a convite de seu melhor amigo brasileiro, o empresário do algodão e televisão Assis Chateaubriand (lembra da TV Tupi e revista O Cruzeiro?). Parte de suas inspirações surgia das viagens que realizava, como quando criou uma coleção inspirada em paraquedistas após visitar a União Soviética. O Brasil, infelizmente, não foi tema de uma dessas coleções. Mas o nosso algodão era sua matéria prima favorita, assim como sua admiração pela mulher brasileira não era segredo para ninguém.
“Sou uma das maiores admiradoras da mulher brasileira. Principalmente porque ela sabe ser mais feminina. Veste-se bem, com elegância, mas sempre com encantadora simplicidade. Devo também elogiar os vestidos brasileiros e sou testemunha do sucesso que vem causando em Paris. Eu própria uso muito o algodão do Seridó em meus modelos, obtendo sempre grande êxito”
disse ela em entrevista ao jornal Correio da Manhã
🫂 Amigos brasileiros
Antes de visitar o Brasil, Elsa Schiaparelli já mantinha relações com brasileiros, recebendo-os em sua casa aos domingos. Suas roupas eram motivo de diversão, enquanto os europeus se surpreendiam com a espontaneidade dos convidados. Greta Garbo chegou a perguntar como ela permitia que mexessem em suas coisas, ao que Elsa respondeu que os brasileiros eram impecáveis. Entre eles, destacava-se Assis Chateaubriand, que promovia matérias-primas nacionais na alta-costura francesa.
📺 Assis Chateaubriand
O empresário Assis Chateaubriand, conhecido como Chatô, era o grande amigo brasileiro da estilista, com quem se conectou em uma de suas festas. Determinado a promover o algodão brasileiro na alta-costura francesa, Chatô trouxe ao Brasil estilistas renomados como Jacques Fath e Marcel Rochas, conquistando o título de "Rei do Algodão". Seu objetivo ao frequentar essas festas era claro: levar Schiaparelli ao Brasil para apresentar a matéria-prima nacional e inspirá-la a usá-la em suas criações, além de a introduzir a cultura brasileira. Para ele, moda era um mercado, mas também poderia ser arte.
🇧🇷 Em terras brasileiras
O que conta os jornais do grupo Diários Associados, administrados por Chatô, não era a primeira vez de Schiap no país, já que ela já tinha vindo para cá antes, mas de forma discreta. Dessa vez, a tournée foi mais midiática ao extremo. Pense em entrevista na Radio e TV Tupi com a estilista, festas e homenagens de políticos. Tudo que uma celebridade extrangeira recebe no país. Mas Schiap queria mais - merecia mais, na verdade.
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, ela visitou o Morro do Pinto e assitiu uma apresentação de samba, segurou crianças no colo para pararem de chorar, levou presente para a molecada e ainda se esbaldou em batidas de Maracujá. "Estou louca pelo Brasil", disse ela à imprensa. Nessas apresentações publicas, ela não queria ficar longe dos populares, pois queria sentir a verdadeira energia do que é o Brasil. Inclusive, ao trazer três obras de Amadeo Modigliani (1884-1920) para serem doadas ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), antes de deixar fechado em quatro paredes de um museu, ela fez questão de expor ao publico, para que todos tivessem acesso a arte, independente da sua origem social.
🦞 Festa boa é nordestina
Depois de São Paulo, ela voou direto para o Recife e também visitou algumas cidades da Bahia. Por lá, se deixou levar pela arte sacra vista em igrejas centenárias, se apaixonando pelo toque dourado que as estruturas apresentavam. A paisagem, então... nem se fala. Ela descreveu para jornais da época que a praia lembrava uma pintura, tal qual um "balé de pescadores". Quando haviam festas em sua homenagem, se ela não estava fofocando com seus novos amigos, ela estava na cozinha, aprendendo atentamente como era feita nossa culinária. Nesse tempo, ela também participou de uma cerimônia de candomblé para fechar o corpo e ter proteção para seguir sua viagem. Feira de Santana, na Bahia, foi o lugar onde ela eternizou seu nome dentro da história brasileira.
“Vim ao Brasil Principalmente para conhecê-lo. O Brasil, sou sincera, sempre me fascinou. O que mais me atrai, todavia, é o folclore. Além de tudo que houver de típico nessa terra maravilhosa”.
Schiaparelli para o jornal Correio da Manhã
🐎 Vaquejada em Feira de Santana
A última etapa de sua viagem foi em Feira de Santana, onde, além de encontros com líderes políticos e empresários, Elsa Schiaparelli recebeu a Ordem do Vaqueiro, uma condecoração criada por Assis Chateaubriand para homenagear pessoas de grande importância histórica, como Getúlio Vargas e Winston Churchill. Durante a cerimônia, Schiap foi acompanhada pelo governador do estado, o prefeito de Feira de Santana, Chatô e 80 vaqueiros das cidades vizinhas em uma vaquejada. O governador do Piauí presenteou-a com um gibão e um chapéu de couro de bode, que ela usou durante o evento. Yolanda Penteado, o pintor Pedro Leitão, jornalistas e a população da cidade também estiveram presentes.
💋 A despedida
Apesar de querer permanecer mais tempo e de ter prometido visitar outros estados, como Paraná e Minas Gerais, Schiap precisou retornar à França. Antes de partir, recebeu de presente algumas terras, incluindo uma em Teresópolis, onde hoje está a Granja Comary, sede da Seleção Brasileira – um mimo do compositor Carlos Guinle. A amizade e as festas com os brasileiros continuaram na França, assim como os negócios. Ela seguiu utilizando o algodão do Seridó em seus vestidos. A última notícia sobre a artista e o Brasil é que, ao chegar à França, ela colocou seu gibão e chapéu de couro em exibição no Palais Vendôme, para que todos pudessem apreciar de perto esse símbolo cultural da vaquejada. Nos jornais, suas fotos e palavras ficam eternizadas, especialmente seu apreço pelo café brasileiro e sua passagem pelo Brasil, que, em suas palavras, foi a experiência mais emocionante de sua vida.
Texto e pesquisa: Gabriel Fusari / Edição: Augusto Mariotti
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